A aventura de Philae, o robô que dorme agarrado ao cometa

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Quarta-feira, 12 de novembro de 2014 – uma data que entrou para a história da aventura espacial. Nos momentos que antecederam a aterragem do Philae no cometa, a tensão na sala de controlo do Centro de Operações Espaciais da Agência Espacial Europeia (ESA), em Darmstadt, na Alemanha, era mais do que palpável. Mas depois chegou a etapa crucial – aquela em que a sonda Rosetta recebeu finalmente um sinal do Philae.

No dia seguinte, a febre mediática começou a acalmar. Na sala de controlo, os cientistas tentavam encontrar o local preciso de aterragem, depois de se saber que o Philae só conseguiu pousar à terceira tentativa. Andrea Accomazzo, diretor da missão Rosetta, confirmava que “durante as etapas cruciais, sobretudo durante a separação do módulo e a descida, o sentimento era de entusiasmo. Mas nada se compara com o momento em que confirmámos a aterragem. Eu comecei a chorar. De repente, toda a tensão que acumulámos durante meses, anos de trabalho, foi libertada. Foi um feito gigantesco.”

Em Colónia, a Agência Espacial Alemã acolhe a equipa que se dedicou exclusivamente à criação do Philae. Uma criação que repousa agora num cometa com mais de 4 mil milhões de anos. Um dos responsáveis, Mario Salatti, declarava que “a sonda e o módulo estiveram ligados durante tanto tempo e depois… É como uma criança que se despede da mãe, que diz ‘já estou crescido, agora vou fazer o meu caminho’. Foi incrível. E é a sucessão das coisas, é tudo emocionante.”

O que não quer dizer que tudo tenha corrido pelo melhor. A autonomia da bateria do robô é reduzida, portanto foi preciso recolher o máximo de informação antes do Philae adormecer. Para já, foram enviadas fotografias surpreendentes que nos ajudam a formar, pela primeira vez, uma ideia realista do que é um cometa. E isso é tanto mais importante quando sabemos que os cientistas acreditam que podem ter sido os cometas a trazer água para o nosso planeta.

Holger Sierks, do Instituto Max Planck de Investigação do Sistema Solar, salienta se pretende saber “quão resistentes são os materiais, de que é feito o cometa, como se formou nos primórdios do nosso sistema solar?” Neste momento, as informações enviadas estão a ser processadas e analisadas. As expetativas, como é óbvio, são de dimensão astronómica. Os primeiros resultados deverão ser obtidos durante as próximas semanas.

A verdade é que, em breve, as circunstâncias vão mudar, como realça Andrea Accomazzo: “O cometa está a aproximar-se do sol. Nós sabemos que as coisas se vão tornar mais agitadas e que vamos deixar de poder orbitar corretamente em torno dele. Pode ser em janeiro, fevereiro, março… ainda não sabemos quando.”

O destino do Philae também é incerto. Neste momento está a hibernar. Mas pode despertar assim que a energia solar penetre no local abrigado onde pousou, alimentando as baterias. Segundo Mario Salatti, “o Philae está na parte de cima do cometa, onde vai repousar à medida que o cometa se aproxima do sol. O que pode acontecer é conseguir recarregar a bateria secundária e reiniciar as operações.”

Matt Taylor, um carismático cientista da missão, considera que “Rosetta tem algo que nenhuma outra missão tem. É difícil de descrever. É o meu trabalho, é a minha vida. Aliás, demasiado, segundo a minha família. Há qualquer coisa sobre este cometa, não sei se é a paisagem alienígena – que vai continuar a modificar-se com o tempo – , ou o facto de termos chegado tão longe, a mais de 500 milhões de quilómetros de distância. A luz solar demora meia hora a lá chegar. É inacreditável que haja agora um objeto feito pelo Homem naquele cenário. Acho que é isso… É espantoso.”

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