A dificuldade em ingressar (e se enxergar) no mercado de trabalho é um relato comum entre jovens negros. Encontrar mais portas fechadas do que abertas, aliado à falta de um sistema corporativo comprometido com mudanças reais, intensifica a busca por avanços. Entre as ações que fazem a diferença, o crescimento de redes de conexão entre profissionais é uma delas. O objetivo é, justamente, impulsionar uns aos outros a ascensão no mercado de trabalho.
Inverter essa roda que gira na contramão para a população negra foi o que movimentou a criação do Grupo de Profissionais Negros na Indústria Criativa do Rio Grande do Sul (GPNic). Fundado em 2018 pelo publicitário e porto-alegrense Felipe Rocha, de 34 anos, o grupo reúne mais de 200 profissionais negros, conectados para criar uma rede de networking e divulgar oportunidades no ambiente corporativo.
Se a exclusão de pessoas negras no mercado de trabalho afeta de modo geral todos os segmentos, quando a lupa mira para o Direito, os dados saltam. O relatório Justiça em Números 2024, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revela que o Brasil conta com apenas 14,25% de juízes negros e 27,1% de servidores do Judiciário. No Rio Grande do Sul, os índices são especialmente baixos.
Diante desse cenário, o Instituto de Acesso à Justiça (IAJ), sediado em Porto Alegre, realiza ações para incentivar jovens negros a ingressarem em concursos públicos das carreiras jurídicas. A advogada trabalhista Livia Prestes, 39, é uma das líderes nessa luta. Hoje, ela atua como conselheira da entidade em que foi presidente do conselho deliberativo por quatro anos.
A filósofa e escritora Angela Davis já dizia: quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta junto com ela. E se tem uma palavra que pode moldar a história da jornalista Andressa Lima, 31, é "movimento". A hamburguense carrega um vasto leque de capacitações profissionais, como o título de mestre em Letras e especializações em escrita criativa, marketing digital, UX design, storytelling e outras. “Não parei de estudar ainda, e acho que nem vou”, frisa.
Mesmo com um currículo sólido e qualificado, Andressa precisou deixar Novo Hamburgo e se mudar para Porto Alegre. O motivo foi justamente as portas fechadas que encontrou pelo caminho em busca de mais oportunidades. “Falta indignação sobre o mercado de trabalho. É uma realidade que não fecha, com um mercado cada vez mais embranquecido. Muitas vezes, as pessoas negras empreendem não por opção, mas por necessidade”, reflete.