Violência e Impunidade no Espírito Santo (Anos 1980).

RUBENS GOMES - Correspondente
Correio Brasiliense.

Vitória — Três acontecimentos policiais no Espírito Santo em 1984 abalaram profundamente a opinião pública capixaba e ganharam dimensão nacional: a chacina de São Mateus, o linchamento de Ibatiba e o chamado "Caso Jeveaux", em que foi assassinado o proprietário do Jornal "Povão", José Roberto Jeveaux, crime até hoje não esclarecido pela polícia capixaba, que desde então procura o fio da meada.

A chacina de São Mateus ocorreu no último mês de novembro, quando o juiz Roberto Fonseca Araújo foi rendido por três presos que tinham sido levados à sua presença para depor, no fórum do município de São Mateus, a 200 quilômetros de Vitória, no norte capixaba. Inexplicavelmente, os presos tinham dois estoques (chucos), renderam o juiz e o mantiveram na sala de audiências como refém, das 13 horas da tarde até as 2 horas da madrugada do dia seguinte. Os presos não dispunham de nenhuma arma de fogo e empunhavam apenas uma arma de brinquedo, fato revelado pelo juiz sequestrado em inglês, pelo telefone, para o secretário de Segurança, ex-senador Dirceu Cardoso, que foi comandar pessoalmente a operação. Na presença de vários desembargadores, Dirceu permitiu que dezenas de policiais invadissem a sala do fórum atirando desordenadamente, e o saldo foi lamentável sob todos os aspectos: cinco mortos e dois feridos. Os três presos foram fuzilados com diversos tiros, e o coronel PM Manoel Nunes Araújo, juntamente com o soldado Antônio Ventura, tombaram atingidos pelos disparos dos próprios companheiros. Outro policial e o juiz Roberto Fonseca também foram atingidos pelos tiros e ficaram feridos.