A 18 de Julho toma posse o Segundo Governo Provisório, apoiado pela Comissão Coordenadora do MFA, e liderado pelo tenente-coronel Vasco Gonçalves. Spínola continuará, porém, as suas tentativas de dissolução do MFA e de inversão da ordem posta em marcha a 25 de Abril de 1974. Recorrendo às imagens do medo e ao mito da conspiração, tão caros a Oliveira Salazar e a Marcello Caetano, Spínola apela a uma grande mobilização nacional da Maioria Silenciosa. Em 25 de Junho, numa entrevista ao jornal Diário de Notícias, Palma Carlos afirmou ser necessário que as maiorias silenciosas saíssem da sua comodidade e se pronunciassem abertamente. A 27 de Julho, Spínola vê-se forçado a anunciar o reconhecimento do direito dos povos das colónias à autodeterminação e à independência. A relação de forças é, neste momento, desfavorável a Spínola. Spínola começa, a partir de então, a elaborar um plano de extinção do MFA por via terrorista. É neste sentido que contacta o Comandante Alpoim Galvão e que surge o documento contra-revolucionário Engrácia Antunes ou Hugo dos Santos, no qual se defende o restabelecimento da hierarquia militar e o apoio claro à JSN. Na elaboração deste documento participaram o próprio Comandante do Estado-Maior do Exército (CEME), Jaime Silvério Marques, assim como oficiais afectos ao Presidente da República: os tenentes-coronéis Manuel Engrácia Nunes e Abel Cabral Couto, os majores Hugo dos Santos, Ramalho Eanes, Carlos Simas e Aurélio Trindade e o capitão António Ferreira, tendo tido o consentimento de Costa Gomes.
6 M.M. Cruzeiro, Vasco Gonçalves: Um General na Revolução (Entrevista), Lisboa, Notícias, 2002, p. 240.
O ataque formal do MFA a esse documento e a consequente revisão da sua posição, pelo General Costa Gomes, isolam, porém, Spínola. Aquando do
reconhecimento da independência da Guiné-Bissau, a 10 de Setembro7, Spínola apela aberta e publicamente a uma marcha silenciosa e a 11 de Setembro afirma o seu carácter anticomunista. Spínola apresenta-se, então, como o salvador que busca a saída ideal para Portugal, contrariamente ao animal das trevas, constantemente assimilado aos revolucionários, aos progressistas e aos comunistas. A 25 de Setembro anuncia-se que a marcha se realizará no dia 28. A marcha dever-se-ia concentrar em Lisboa, em frente da Assembleia da República, e os manifestantes deveriam pedir ao Presidente a salvação do país do caos, do comunismo e do governo de Vasco Gonçalves:
7 Ver “Comunicado da Comissão Política do Comité Central do PCP”, 27-08-1974 [em linha], Portugal: Partido Comunista Português. Acedido em 10 de Março de 2012, em: http://www.pcp.pt/actpol/temas/25abril/cp19740827.html: “No dia 10 de Setembro.