Por causa da anunciada saída do Reino Unido da União Europeia, cujo “divórcio amigável” deverá iniciar-se até final de março, centenas de judeus britânicos e os respetivos descendentes começaram há meses a tentar recuperar a cidadania alemã que lhes foi retirada à família pelos nazis durante a II Guerra Mundial.
Os “fantasmas” do Holocausto não vão desaparecer, mas para já reassumir a cidadania do país que um dia os perseguiu e expulsou parece menos importante do que manter a possibilidade de livre circulação e trabalho no seio da União Europeia.
UK Jews seek restoration of German citizenship post-Brexit https://t.co/RVZ77GFBmo— The Times of Israel (@TimesofIsrael) 17 de outubro de 2016
O escritor Thomas Harding é um destes casos. Há cerca de 80 anos, o avô teve de fugir da Alemanha. Agora, através desse familiar tornado refugiado, Harding tenta manter a ligação à União Europeia, aproveitando a abertura na lei germânica para solicitar o passaporte alemão.
“Após o ‘Brexit’”, o escritor percebeu “que iria haver uma grande perda”. “Era previsível que eu e a minha família viéssemos a perder o direito de viver e trabalhar nos outros 27 países da União Europeia”, afirmou Thomas Harding
O escritor explica que, “por não ser necessário abdicar do passaporte britânico, não precisar de viver na Alemanha nem falar ou aprender alemão, não tinha nada a perder” em abrir o processo junto da Embaixada da Alemanha, em Londres: “para mim, (pedir a cidadania alemã) não era tanto como dizer adeus ao Reino Unido, mas sim, olá à Europa.”
“Taking German citizenship is not about saying ‘goodbye’ to Britain, but ‘hello’ to Europe” https://t.co/eExrsYnNTA— Thomas Harding (@thomasharding) 16 de agosto de 2016
O procedimento legal que permite pedir o passaporte alemão aos judeus não alemães, mas com ascendência germânica e/ou que ficaram sem essa ligação, está consagrado no artigo 116 da Constituição Alemã, embora limitado a “antigos cidadãos alemães a quem tenha sido retirado esse estatuto entre 30 de janeiro de 1933 e 8 de maio de 1945, por motivos políticos, raciais ou religiosos, e aos respetivos descendentes.”
O documentarista Ben Lewis é outro dos candidatos. “Tenho várias razões para querer adotar a cidadania alemã. Em boa parte é por causa do meu filho. Quero que ele tenha as mesmas vantagens na vida que eu tive como poder trabalhar no território europeu”, destaca, acrescentando a possibilidade de poder ter trabalhado “pela Europa toda a vida.”
“Adoro Berlim. Posso imaginar-me a viver ali. Talvez isso venha a acontecer no futuro”, perspetiva Ben Lewis, sublinhando pretender, sobretudo, “assumir uma posição firme, bem documentada e clara”: “estou contra o ‘Brexit’.”
Estima-se que tenham fugido à perseguição nazi, do centro da Europa para o Reino Unido, cerca de 70.000 judeus. A Associação britânica de Refugiados Judeus estima que ainda vivam no reino de Isabel II cerca de 5000 vítimas do regime nazi e, contando com os descendentes, serão dezena