Cabeças No Ar - No Pavilhão Atlântico (parte 4/13)
O Cheiro Dos Livros
O professor de português
Empolgou-se na lição
Tropeçou caíu ao chão
Quase partiu o pescoço
Como aquele sábio grego
Que de tanto olhar o céu
Caíu dentro dum poço
O professor de português
Falava de natação
Dos poemas de Camões
Eu vi toda a epopeia
Senti o cheiro ao mostrengo
Cheirava a sal e a trovões
E a desgostos de sereia
Mas eu quero-lhe dizer
Um segredo verdadeiro
Até o Stör caír
Os livros não tinham cheiro
E eu que não tinha atenção
Era uma nota sofrível
Sentí vivo o predicado
Dentro do meu coração
Saltei subí de nível
Fiz-me sujeito acordado
No centro da oração
Ó meu caro professor
Eu quero-lhe agradecer
Ter ganho o meu nariz
Nele vou a toda a parte
É uma força motriz
Vou a Roma e a Paris
Vou à Lua e vou a Marte
Mas eu quero-lhe dizer
Um segredo verdadeiro
Até o Stör caír
Os livros não tinham cheiro
Ó meu caro professor...
Carlos Tê / João Gil