Uma cerimónia improvisada nas águas da costa de Lampedusa fez parte, esta sexta-feira, de um conjunto de eventos que serviram para lembrar as quase 400 pessoas que há exatamente um ano ali perderam a vida. As vítimas, a larga maioria provenientes de países norte africanos, resultaram do naufrágio de um barco líbio, a bordo do qual tentavam cruzar de forma ilegal o Mar Mediterrâneo rumo ao sonhado “el dorado” da Europa.
Alguns dos sobreviventes da tragédia e familiares das vítimas mortais regressaram à ilha italiana, onde também esteve, entre outros governantes italianos, o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, para participar na cerimónia oficial de luto pela tragédia. O alemão marcou presença em representação também da União Europeia e foi recebido no aeroporto de Lampedusa por um vasto grupo de manifestantes que o apuparam e insultaram, chamando-lhe inclusive “nazi”. O governante replicou com ironia à contestação: “É engraçado. Apenas aqui em Itália me tratam como ‘nazi’.”
Bruxelas, entretanto, tem vindo a ser pressionada pela Itália para passar a assumir os altos custos das operações de vigilância contra a imigração ilegal no Mediterrâneo. Criado há um ano, impulsionado pela tragédia de Lampedusa, o programa Mare Nostrum tem um custo mensal na ordem dos nove milhões de euros e está chegar ao fim. A Itália já fez saber não ter dinheiro para continuar para lá de outubro a assumir esta operação naval de vigilância e salvamento.
De visita a Tunes, capital da Tunísia, o ministro do Interior italiano voltou a chamar os “28” para o comando das operações. “Havemos de alcançar o objetivo de colocar a Europa a vigiar a fronteira mediterrânica. Vamos consegui-lo em novembro e a minha ideia é que o Frontex (um novo programa de vigilância já anunciado mas de menor impacto) arranque o quanto antes. Logo a seguir o Mare Nostrum é encerrado”, afirmou Angelino Alfano.
Em Itália, Schulz considerou, entretanto, que “a tragédia de Lampedusa é uma mancha na consciência dos europeus” e elogiou o programa Mare Nostrum como “uma grande inovação do governo italiano”. O executivo de Matteo Renzi espera, contudo, mais do que palavras.
Só nos últimos dois dias, através da operação Mare Nostrum, a marinha italiana terá resgatado no Mediterrâneo mais de 2500 pessoas que tentavam chegar de forma ilegal à Europa. Se este programa italiano de vigilância marítima for encerrado e não houver qualquer tipo de continuidade, haverá risco de uma nova tragédia como a de Lampedusa?